sábado, 24 de março de 2012

Páginas a virar

"Excelentíssimos Senhores Leitores,

Venho por meio deste informar-lhes que...” estou de saco cheio de pensar, pensar, pensar e (meramente) pensar em como retomaria minha escrita neste espaço. Para ser franco, esses (apenas isso...) pensamentos-parasitas, que ficam corroendo de dentro para fora a minha cabeça, além de fazerem questão de exumar este blog, ainda por cima são exigentes! Me atormentam: “Você precisa escrever no blog, mas não pode ser qualquer coisa! Tem que ser algo pedante e pra lá de complexo, num português de Luiz de Camões, e balbuciando fraseologias que nem Platão, nem Nietzsche, nem ninguém consiga decifrar”. E aí brotavam o mimimi e o bla-bla-blá...

Não serei mais porta-voz de um palavreado velho e traiçoeiro. Dirão, como já disseram: “Mas seus versos antigos são justificados pelo tal contexto em que foram feitos...” Por isso, mesmo. O que passou ficou no passado. Não os nego, não os refuto, não finjo que não são meus. Ao contrário: da página virada é que as histórias vão prosseguindo os seus rumos. Onde estou hoje é lógica de tantos passos - alguns firmes, outros nem tanto - que permaneceram para trás na estrada de lama e sol.

“Páginas viradas”. Me estranho recorrendo a expressões lugar-comum. Ou começando frase com pronome oblíquo. Não sou mais o mesmo... Será? Bem, olha só o relógio batendo 2h da manhã agora e cá estou eu tendo que escrever. É, desconfio que tem algum resquício sorrateiro do eu-antigo ainda vivo aqui dentro e não terei como (felizmente?) expulsá-lo. Pois bem! Apenas sei que esse eu-antigo, para estar frente a frente de seus desejos e senti-los nos dedos, teve que aprender – pouco a pouco e, ao mesmo tempo, abruptamente – a continuar seu percurso sem vacilar, desvelando essa bruma densa que nos sempre esconde a linha do horizonte.

Tateando nesse nevoeiro, abandonei minha cidade, tornei-me carioca de fato, passo a morar com os avós e me vejo, há nove meses, estudante de Comunicação Social na ECO-UFRJ. A mesma história, novos capítulos, novos cenários, novos personagens, novas páginas. São Sebastião do Rio de Janeiro, rogai por mim... Persiste o medo do desconhecido, um abismo escavado à beira de meus pés pela minha própria mente. Mesmo tendo, de início, a sensação de que estou a cambalear afobado numa corda bamba, não quero me aprisionar às angústias de quem insiste em antecipar sua história antes do último ponto final da última frase da última página. Sigo lendo a história. Virou-se a folha do livro. Que venham os próximos capítulos.

Não sei muito bem o que eu fiz para merecer ver o Palácio Universitário se apossando fugaz dos meus dias. E não dá para relutar, pois meu coração também se apropriou dele. Fez dele uma de suas mais nobres moradas. Tornou-se mais que uma quimera, um sonho extenso, onipresente, que vem se desdobrando delicadamente e, antes mesmo que minha razão tenha se dado conta, penetrou irrequieto em minhas veias como o álcool. Fiquei bêbado de amores pela ECO e parece que não há cura para desfazer meu vício.

Pois é, se descobrir enamorado ainda carrega consigo suas artimanhas e contrafeitos. Cruel é ter a sola dos pés lanhada pelas novas pedras e espinhos do caminho e crer que o passado está te revisitando... Resta aqui esse silêncio pálido, incapaz de traduzir o quanto fere por dentro o choro omitido, o sorriso não contentado, essa ânsia incontida de soltar ao léu todas as palavras aflitas no peito e não proferidas, essa insensatez de querer recolher de volta à alma meus defeitos expostos a nu todo dia aos outros por aí. Enfim, coisas do mundo. Quem dera nossas dores fossem apagadas da história apenas ao ter suas páginas viradas, encobertas de poeira e tragadas pelo tempo. Reles linhas e parágrafos deixados para trás.

De qualquer forma, mantenho a leitura ciente de que não estou limitado a perpassar meus olhos passivos em versos já escritos para a eternidade. Muito mais do que isso: sou escritor do meu próprio destino. Não tem como ocultar que o resgate deste blog e meu reingresso a suas postagens fazem parte desse processo. Meu futuro pertencerá este espaço. Tudo que passar por meu crivo será aqui registrado. Afinal, são muitas páginas ainda a virar...

A bênção, meu caríssimo leitor! Deseja-me sorte!