domingo, 22 de dezembro de 2013

Aos meus amigos Thiago e Lucas

No último dia 19 de dezembro, escrevi duas mensagens de aniversário na página do Facebook dos meus amigos Thiago Minete e Lucas Torres. Com receio de que ambas as publicações corram o risco de serem apagadas - não necessariamente por eles dois, mas por eventuais problemas técnicos do próprio Face -, decidi publicá-las aqui à título de registro.

***
Ao meu amigo Thiago,
Fiquei encabulado ao longo do dia imaginando o que escrever. Acho que não deu para drenar lá grande coisa, mas o elo consumado entre eu e você me puxa para dar as caras aqui.
Talvez nem compense lhe desejar "sucesso". Esse tipo de voto seria redondamente uma obviedade, tendo em vista o estudante e o ser humano que você é. Esse traço já estará arraigado nos rumos que irá traçar como jornalista. Desejar "paz"? Esta poderia fenecer ante a tranquilidade que você, provavelmente sem nem ter ciência desse dom, já carrega por onde vai. E vai deixando, por instinto, um bocadinho dessa calmaria nas pessoas com quem os desígnios da vida lhe obrigaram a conviver.
Só sei que, nessas mil andarias que vida - ou alguma entidade misteriosa, ou Deus mesmo - delineou para eu também marchar, lá pelos idos de agosto de 2011, tropecei em tudo o que você é. Se esses caminhos cruzados são planos ocultos, é melhor não mudar de rota. Quem sabe seja uma prova pela qual tenho que perpassar. Desconfio que seja uma aula, uma disciplina sem prazo para fim de período. Talvez seja para absorver um pouco da humildade que você compartilha naturalmente com todos a sua volta, admirar a inteligência inerente que dita as regras quando alguém se coloca para trabalhar contigo, me reeducar com seu bom humor inescrupuloso, ou só mesmo recuperar a delicadeza perdida que você gosta de acumular, mas não de esconder, pois a expõe a cada palavra, a cada gesto de companheirismo.
Enfim, como deu para notar, só me restou desejar "saúde" mesmo. Arranque dessas linhas meu sincero abraço, de aprendiz para mestre.
PS: como também deu para notar, não disse que você me espelha "sorte", já que, lamentavelmente, você não a tem. Se a tivesse, não teria sido rebaixado. 
***
 Ao meu amigo Lucas,
Permaneceria plantado horas, dias, semanas, esmagando meus neurônios almejando resumir o que você representa para mim. Quaisquer que sejam os meus caracteres proferidas atabalhoadamente, condensados, espremidos, antes mesmo do você os ler, tenho perfeita ciência de que você sabe que minha alma está desnuda e derramada aqui.
Estou aqui para lhe agradecer por você existir. E esse brevíssimo texto não é uma prece a você. Despreze qualquer significado místico que você ou outra pessoa que ver o post possa cair na pobreza de enquadrá-lo porque não estou de joelhos. Acontece que sou piegas mesmo, você já sabe. Mas também sou vaidoso, pois a minha pieguice é de uma honestidade invejável.
Minha gratidão volta no tempo lá no primeiro período. Como já relatei múltiplas vezes, sobretudo naquela época, eu vinha de um turbilhão, me arrastando para fora de nevoeiro de amargor que pouquíssimos homens na Terra dispuseram da lábia para descrever. Atordoado, a ECO-UFRJ desponta como um lume imponente em meio à treva. Entre os variados personagens com quem me defronto, está você. Dois anos transcorrem, passam-se alegrias, passam-se lágrimas, aqui estou e aqui você ainda está. Daqueles primeiros meses, segure apenas uma verdade: você foi um dos maiores responsáveis por recuperar o meu sorriso.
De lá para cá, os minutos passados turvam-se com os minutos futuros. Nem sei, portanto, teorizar o que é o momento presente em minha camaradagem contigo. Talvez seja um continuum, uma abstração imprecisa, mas necessária, tal qual o ar, sobre o qual as definições literais são limitadas, porém só se sabe que, sem ele, a vida inexiste. E a vida inexiste sem a amizade.
A sua amizade, por exemplo, costuma fazer as dores subirem para o espaço. Quem sabe seja tão ou mais saciante que o ar. Não há obstáculo aparente entre as minhas palavras e as suas. A única coisa que há entre os pensamentos de cada um, estranhezas costumeiras à parte, é o estímulo. Estímulo que faz cada lado ousar criticar confessamente o outro, compartilhar as trombadas que tomamos como estudantes e futuros profissionais, empestar o chat um do outro com bilhões de piadinhas - boa parte de que só você vê graça -, trocar informações desse parque de diversões que é o noticiário do Brasil e mundo afora e, como não poderia deixar de ser, sobrar um bom tempo para espiar a paisagem feminina.
Por tudo isso, retomo a máxima que lancei ao léu ali em cima: agradeço-lhe por você existir. Estou aqui para prosseguir sendo alvo de suas alegrias e suas angústias. Como disse ao Thiago, arranque dessas linhas meu sincero abraço, de aprendiz para mestre.
Camarada Lucas, presente!

sábado, 24 de março de 2012

Páginas a virar

"Excelentíssimos Senhores Leitores,

Venho por meio deste informar-lhes que...” estou de saco cheio de pensar, pensar, pensar e (meramente) pensar em como retomaria minha escrita neste espaço. Para ser franco, esses (apenas isso...) pensamentos-parasitas, que ficam corroendo de dentro para fora a minha cabeça, além de fazerem questão de exumar este blog, ainda por cima são exigentes! Me atormentam: “Você precisa escrever no blog, mas não pode ser qualquer coisa! Tem que ser algo pedante e pra lá de complexo, num português de Luiz de Camões, e balbuciando fraseologias que nem Platão, nem Nietzsche, nem ninguém consiga decifrar”. E aí brotavam o mimimi e o bla-bla-blá...

Não serei mais porta-voz de um palavreado velho e traiçoeiro. Dirão, como já disseram: “Mas seus versos antigos são justificados pelo tal contexto em que foram feitos...” Por isso, mesmo. O que passou ficou no passado. Não os nego, não os refuto, não finjo que não são meus. Ao contrário: da página virada é que as histórias vão prosseguindo os seus rumos. Onde estou hoje é lógica de tantos passos - alguns firmes, outros nem tanto - que permaneceram para trás na estrada de lama e sol.

“Páginas viradas”. Me estranho recorrendo a expressões lugar-comum. Ou começando frase com pronome oblíquo. Não sou mais o mesmo... Será? Bem, olha só o relógio batendo 2h da manhã agora e cá estou eu tendo que escrever. É, desconfio que tem algum resquício sorrateiro do eu-antigo ainda vivo aqui dentro e não terei como (felizmente?) expulsá-lo. Pois bem! Apenas sei que esse eu-antigo, para estar frente a frente de seus desejos e senti-los nos dedos, teve que aprender – pouco a pouco e, ao mesmo tempo, abruptamente – a continuar seu percurso sem vacilar, desvelando essa bruma densa que nos sempre esconde a linha do horizonte.

Tateando nesse nevoeiro, abandonei minha cidade, tornei-me carioca de fato, passo a morar com os avós e me vejo, há nove meses, estudante de Comunicação Social na ECO-UFRJ. A mesma história, novos capítulos, novos cenários, novos personagens, novas páginas. São Sebastião do Rio de Janeiro, rogai por mim... Persiste o medo do desconhecido, um abismo escavado à beira de meus pés pela minha própria mente. Mesmo tendo, de início, a sensação de que estou a cambalear afobado numa corda bamba, não quero me aprisionar às angústias de quem insiste em antecipar sua história antes do último ponto final da última frase da última página. Sigo lendo a história. Virou-se a folha do livro. Que venham os próximos capítulos.

Não sei muito bem o que eu fiz para merecer ver o Palácio Universitário se apossando fugaz dos meus dias. E não dá para relutar, pois meu coração também se apropriou dele. Fez dele uma de suas mais nobres moradas. Tornou-se mais que uma quimera, um sonho extenso, onipresente, que vem se desdobrando delicadamente e, antes mesmo que minha razão tenha se dado conta, penetrou irrequieto em minhas veias como o álcool. Fiquei bêbado de amores pela ECO e parece que não há cura para desfazer meu vício.

Pois é, se descobrir enamorado ainda carrega consigo suas artimanhas e contrafeitos. Cruel é ter a sola dos pés lanhada pelas novas pedras e espinhos do caminho e crer que o passado está te revisitando... Resta aqui esse silêncio pálido, incapaz de traduzir o quanto fere por dentro o choro omitido, o sorriso não contentado, essa ânsia incontida de soltar ao léu todas as palavras aflitas no peito e não proferidas, essa insensatez de querer recolher de volta à alma meus defeitos expostos a nu todo dia aos outros por aí. Enfim, coisas do mundo. Quem dera nossas dores fossem apagadas da história apenas ao ter suas páginas viradas, encobertas de poeira e tragadas pelo tempo. Reles linhas e parágrafos deixados para trás.

De qualquer forma, mantenho a leitura ciente de que não estou limitado a perpassar meus olhos passivos em versos já escritos para a eternidade. Muito mais do que isso: sou escritor do meu próprio destino. Não tem como ocultar que o resgate deste blog e meu reingresso a suas postagens fazem parte desse processo. Meu futuro pertencerá este espaço. Tudo que passar por meu crivo será aqui registrado. Afinal, são muitas páginas ainda a virar...

A bênção, meu caríssimo leitor! Deseja-me sorte!